Fernando Brito, no Tijolaço
Muita gente tem pensado na vacinação – que, lamentavelmente ainda não está próxima para os brasileiros – como uma solução imediata para a pandemia do novo coronavírus.
Infelizmente não é, e isso torna mais fácil de compreender a opção de quase todos os países de estabelecer cronogramas de vacinação que combinem o máximo possível de ganhos com a indisponibilidade de vacinas em quantidades suficientes para todos e a viabilidade de aplicá-las.
A razão essencial de vacinar os mais idosos em primeiro lugar é a de reduzir o número de casos graves e fatais, mais comuns nesta faixa etária. Nesta etapa, não há, em escala significativa, redução da transmissão, não só porque o efeito de pessoas vacinadas é pequeno quanto pelo fato de que, com menor circulação, os idosos são vetores menores de contágio que a população mais jovem, mais ativa socialmente (trabalho, transporte, escolas etc).
Para haver bloqueio da transmissão, será preciso que a cobertura vacinal vá muito além disso. Dependendo da eficácia da vacina usada e de condições sobre as quais não temos ainda conhecimento (clima, características genéticas das populações, grau de adensamento urbano etc) será preciso que a imunização vá a patamares muito altos.
Os imunologistas desenvolveram modelos matemáticos para determinar esta taxa de cobertura, conhecida como “Teorema dos Limiares”, que leva em conta a taxa de transmissão da doença (R0,“erre-zero”) e a taxa de eficácia do imunizante para determinar qual a percentagem da população precisa estar imunizada para cessar, em escala, a transmissão. Mas não é tão simples, porque há outros fatores que influenciam nisso.
É por isso que, mesmo quando chegarmos na fase da vacinação massiva, até que esta atinja percentagens muito altas, teremos de continuar com as medidas de distanciamento social e com o uso de máscaras.
É por isso que – ao contrário das bobagens que diz o general da Saúde sobre “se houver demanda” – a recusa ou temor de vacinar-se (inclusive com a estúpida “razão” ideológica de ser uma “vacina chinesa”) não é uma questão meramente de “liberdade individual”, mas do direito da coletividade em estar protegida contra uma doença letal.
Cada pessoa que não se vacina é, potencialmente, mais que um possível doente: é um possível transmissor da doença. Pode até, “por seu histórico de atleta” (o que já se viu ser uma outra bobagem) alguém que não desenvolva os sintomas, mas se também quem leve a doença para outros.
Outros não imunizados ou, mesmo tendo sido vacinados, estarem no intervalo de duas doses ou, por serem as “exceções” na formação de defesas, serem aqueles poucos que não serão protegidos com a vacina.
No Brasil burro e egoísta em que vivemos nos últimos anos e com um negacionista a pregar que estamos “no finalzinho” de uma praga sem igual em nossa história recente, esclarecer as pessoas é um dever de humanidade.