(Fntes: Vatican News e Brasil de Fato)
O Papa Francisco exaltou os trabalhadores informais e voluntários, em carta aos movimentos populares, que tornou pública no domingo de Páscoa. Definiu-os como o “exército invisível que combate nas trincheiras mais perigosas”: são os trabalhadores da economia informal, independente ou popular, sem uma renda mensal fixa. Um exército que não tem outras armas, a não ser a solidariedade, a esperança e o sentido de comunidade que reflorescem nesses dias em que ninguém se salva sozinho”. No dia de Páscoa, enquanto o mundo continua combatendo com a pandemia provocada pelo Covid-19, o Papa enviou uma mensagem aos “irmãos e irmãs dos movimentos e das organizações populares”, com os quais dialoga desde o início do seu pontificado.
O vírus, se sabe, atinge todos, sem diferença de nacionalidade nem pertença religiosa ou social, mas são os pobres – diz o Pontífice – que pagam e pagarão no futuro o preço mais alto. E pensando na dificuldade que fazem para resistir neste monento, afirma que talvez chegou o tempo de pensar num salário universal para os excluídos.
Francisco enaltece a ajuda concreta que os movimentos populares oferecem a quem está mais necessitado, sem habitação, numa moradia precária ou aos migrantes. “Vocês estão ali, para tornar as coisas menos difíceis, menos dolorosas. Congratulo-me com vocês e lhes agradeço de coração.”
“Continuem a luta e se cuidem como irmãos. Rezo por vocês, rezo com vocês”, expressa o Papa Francisco em carta destinada às e aos integrantes dos movimentos populares e organizações sociais de todo o mundo, divulgada neste domingo de Páscoa (12).
Na data em que milhões de cristãos celebram a Ressurreição de Cristo, o pontífice destina suas orações àqueles que dedicam suas vidas à transformação social, atuando a partir de suas comunidades.
“Penso nas pessoas, sobretudo nas mulheres, que multiplicam o pão nos restaurantes comunitários, cozinhando com duas cebolas e um pacote de arroz um delicioso refogado para centenas de crianças; penso nos doentes, penso nos idosos. Nunca aparecem nos grandes meios de comunicação. Tampouco aparecem os camponeses e agricultores familiares que seguem lavrando para produzir alimentos saudáveis sem destruir a natureza, sem monopolizar ou negociar com a necessidade do povo. Quero que vocês saibam que nosso Pai Celestial olha por vocês, os valoriza, reconhece e os fortalece em sua escolha”, escreve.
Com palavras emocionantes, que expressam sua proximidade com os movimentos populares, recordando encontros ocorridos no Vaticano e em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, o Papa Francisco enaltece o trabalho realizado por essas organizações em meio à pandemia do novo coronavírus.
“Se a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível lutando nas perigosas trincheiras. Um exército que conta apenas com as armas da solidariedade, da esperança e do sentido de comunidade que renasce nestes dias nos quais ninguém se salva sozinho. Vocês são, para mim, como lhes disse em nossos encontros, verdadeiros poetas sociais que, a partir das periferias esquecidas, criam soluções dignas para os problemas mais urgentes dos excluídos”, afirma.
No documento, ele recorda a situação de vulnerabilidade enfrentada pela população mais pobre, sem-teto, presos, migrantes, trabalhadores informais, para os quais, em suas palavras, “as quarentenas se tornam insuportáveis” por não contarem com garantias legais que os protejam.
Para o líder da Igreja Católica, a crise desencadeada pela pandemia é uma oportunidade da humanidade repensar seus padrões de produção e consumo, orientados pela competição, individualismo e “lucro desmedido para poucos”.
“Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que almejamos, centrado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e o acesso universal a esses três T que vocês defendem: terra, teto e trabalho. Espero que este momento de perigo nos tire do piloto automático, agite nossas consciências adormecidas e permita uma transformação humanista e ecológica que coloque fim à idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro”, suplica.
Na mensagem, o pontífice ainda direciona suas críticas ao mercado e aos “paradigmas tecnocráticos” que, segundo ele, orientam muitos governos ao redor do mundo e “não são suficientes para abordar esta crise nem os outros grandes problemas da humanidade”.
Para Francisco, neste contexto em que a epidemia traz à tona e acirra as desigualdades, os movimentos e organizações populares devem ser reconhecidos, porque são os responsáveis por transformar as crises e privações “em promessa de vida para suas famílias e comunidades”, com modéstia, dignidade, esforço e solidariedade.
Devido às medidas sanitárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para combater a propagação da doença, neste domingo (12), as celebrações litúrgicas do Vaticano serão realizadas sem os fiéis na Praça de São Pedro devido à pandemia do novo coronavírus.
Leia no link a carta do Papa aos movimentos populares: