OS NOVOS DESAFIOS DO PT
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OS NOVOS DESAFIOS DO PT

Presidente eleita diz nos Estados Unidos que presença no governo enfraquece os partidos, que deixam de fazer política com 'P' maiúsculo

18/04/2018 1:03

— O processo de reconstrução das estruturas organizacionais e organizadoras do Partido dos Trabalhadores vai desempenhar um papel fundamental nos rumos futuros da democracia no Brasil. Quais seriam os elementos mais importantes nesta reconstrução?

— Its a very difficult question! (risos) Mas é a questão que está posta para nós. Por isto, ela é difícil. Sempre que um partido como o nosso chega ao governo, ocorre um fenômeno que é, ao mesmo tempo, inexorável naquele momento, mas que cria grandes problemas para o futuro. Você leva seus melhores quadros para o governo. Ao fazer isto, você enfraquece o partido. Eu escutei isso de muitos dirigentes e chefes de estado em muitos países.

O partido tem uma função dupla. Primeiro, uma função de crítica ao governo. Ele tem de elaborar e ser uma espécie de coro grego do governo. De outra parte, nós somos republicanos, não extorquimos votos em troca de benefícios. O Bolsa Família, por exemplo, é formado por um cadastro digital de milhões de pessoas, cada usuário tem um cartão plástico digitalizado e não há relação pessoal entre nós e o possuidor do cartão.

Durante os nossos governos, se você entrevistasse uma pessoa e perguntasse “a sua vida melhorou”, a resposta seria “melhorou, sim, hoje eu tenho isso ou aquilo que antes eu não tinha”. Quando você perguntasse “porque a sua vida melhorou”, a primeira reposta que ouviria é: “porque Deus ajudou”. A segunda resposta é boa: “porque eu me esforcei”. Isto implica auto-estima em alta. A terceira resposta é “porque contei com meus amigos, meus colegas, o padeiro da esquina, qualquer um, menos nós, do governo”.

Por que isto acontece? Porque não se fez política com P maiúsculo. Quem tem que fazer este tipo de política não é o governo, são os partidos, que debatem e, inclusive, criticam, apontam erros e falhas.

O Partido dos Trabalhadores amadureceu nos nossos quatro períodos de governo, e aprendeu que a democracia não é algo que está dado. Você tem que construí-la participativamente, respeitando a sociedade civil, entendendo como ela se organiza, percebendo que existe uma dificuldade enorme de organizar quando os trabalhadores têm seus direitos precarizados. Não existem mais os locais de organização tradicionais. O padrão de reivindicação hoje é extremamente vertical. A gente cunhou uma expressão no governo: “superar a pobreza é só o começo”. Quer dizer: todo mundo quer mais. Ninguém fica contente em apenas superar a pobreza. O PT tem de olhar para as novas condições de organização do trabalho no Brasil.

Nós tentamos muita coisa, fizemos muitas conferências, gente do país inteiro participou. Lembro de  um ribeirinho do Amazonas que veio a uma conferência e, quando lhe perguntaram porque participava, ele disse: “eu vim à conferência para conferir se tudo está no conformes” – o que é a mais perfeita definição de uma conferência. Um partido também tem de conferir se tudo está nos conformes. Este vai ser o grande desafio do PT.

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