A desumanidade revelada nas frases de Paulo Guedes não é apenas maldade, é método de ação, é visão de mundo. Na verdade, é programa de governo. O neoliberalismo que ele foi encarregado de executar em nome de Bolsonaro e de todos os golpistas de 2016 se mostra claramente nas medidas que o governo adota, e é operado nas declarações agressivas do ministro. São frases que traduzem à perfeição a visão e o contexto em que age o neoliberalismo no Brasil.
A agenda neoliberal, no plano social, está retratada sem disfarces no recente insulto às empregadas domésticas e aos pobres em geral, na ofensa aos servidores públicos chamados de parasitas, no esforço para cortar a pensão paga aos idosos por meio do BPC, na tentativa de taxar o seguro-desemprego, no projeto de privatizar a previdência social via capitalização, na defesa do AI-5 como forma de reprimir manifestações populares e na confissão do ministro que sintetiza o plano todo: “Não olhem para nós procurando o fim da desigualdade social”.
Com suas falas e ações, Guedes assume o papel de porta-voz do fim do mundo. Só que a cada medida que põe em prática e a cada barbaridade que fala, Guedes mais se assemelha a um cavaleiro do apocalipse brasileiro. E ele não está só, de jeito nenhum. Na visão profética do apóstolo João, os cavaleiros do apocalipse eram a Peste, a Guerra, a Fome e a Morte. Na tragédia neofascista e neoliberal encenada no Brasil, os cavalos estão montados por Bolsonaro, Guedes, Weintraub e Damares – isto quando não somos acossados por alguns outros candidatos em busca de montarias extras, como se o governo quisesse formar uma verdadeira cavalaria da destruição.
Desde o princípio de sua existência o Brasil excluiu o povo de seus direitos básicos. Isto só deixou de acontecer em alguns momentos da história, como no período das conquistas trabalhistas e, sobretudo, quando o PT chegou ao governo, em 2003. Os pobres passaram então a fazer parte do orçamento público e a ter direitos que vinham lhes sendo negados, como acesso de 1,8 milhão de empregadas domésticas à legislação do trabalho, de 20 milhões trabalhadores a empregos formais, de 63 milhões a atendimento pelo programa Mais Médicos, de 2,7 milhões de famílias à casa própria, para citar apenas algumas de muitas conquistas.
Infelizmente, é necessário dizer que tais direitos começaram a ser reduzidos com o golpe que me derrubou ilegalmente da presidência em 2016, e estão sendo destruídos desde a ascensão de Bolsonaro e Guedes ao poder.
O apocalipse brasileiro é social. E a reconquista do Brasil pelo voto vai exigir grande esforço de todos. Um trabalho difícil de reconstrução, para o qual terão de contribuir, unidas, as forças democráticas, progressistas e populares. A gênese deste renascimento terá de ser gerada nas ruas, nas fábricas e nas empresas, nos sindicatos e nos movimentos sociais, nas escolas e nas universidades. Onde quer que o nosso povo possa se manifestar. Mas reconquistar e avançar é nossa esperança e nossa força.
DILMA ROUSSEFF