Com a morte de Mino Carta, o Brasil perde um dos maiores jornalistas de sua história e um narrador fundamental dos momentos políticos mais importantes do país nos últimos 70 anos.
Mino foi o gênio que criou algumas das mais relevantes publicações da imprensa nacional – como Veja, IstoÉ e CartaCapital – e o bravo editor que comandou alguns dos enfrentamentos mais ousados do jornalismo contra o regime militar. Em plena vigência do AI-5, publicou na Veja, em 1968, a reportagem que denunciou 150 casos de tortura nos porões da ditadura. A edição foi apreendida nas bancas, mas abriu uma brecha na blindagem da censura.
Em 1978, foi o primeiro jornalista a dedicar uma capa ao então sindicalista Lula, de quem se tornou amigo e que convenceu a participar da campanha das Diretas Já, a pedido de Ulysses Guimarães.
Mino Carta reinventou a imprensa brasileira e definiu o verdadeiro papel do jornalista: defensor da verdade factual e fiscal do poder. Exercitou tais princípios quando era mais arriscado fazê-lo.
Nascido em Gênova, filho de uma família que lutou contra o fascismo de Mussolini, foi digno de suas origens ao tornar-se, no Brasil, um combatente de todas as formas de autoritarismo, inclusive o recente retrocesso de índole fascista, do qual ainda tentamos nos livrar.
Uma frase de Mino Carta o define como profissional e como cidadão: “fé em coisa nenhuma, medo de nada” – síntese da necessária atitude do bom jornalista de desconfiar do poder, enfrentar desafios e buscar a verdade com coragem e sem concessões.
Aos familiares, amigos e admiradores de Mino Carta, minha solidariedade.
Dilma Rousseff