“MÍDIA É VÍTIMA PORQUE NÃO GRITOU ANTES”
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“MÍDIA É VÍTIMA PORQUE NÃO GRITOU ANTES”

“A mídia não se mobilizou quando outros grupos sociais foram ofendidos"

20/02/2020 7:25

DCM

O jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), classificou a declaração do presidente Jair Bolsonaro contra a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello como “machista”, “sexista”, “degradante”, que fere o “senso de dignidade” e agride valores fundamentais da democracia. Mas ele também destacou a “seletividade” nas reações da mídia tradicional, já que a mesma indignação não ocorreu quando as agressões de Bolsonaro e de integrantes do governo se dirigiram a outros grupos sociais.

Ele cita declarações do presidente no início do seu mandato rotulando movimentos sociais como terroristas. Lembra também as agressões proferidas contra a advocacia, na figura do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.

A mídia não se mobilizou quando outros grupos sociais foram ofendidos. Os movimentos sociais são instituições tão relevantes para a democracia quanto o jornalismo, por exemplo. É um momento tão grave, que deve servir para admoestar a própria imprensa, que hoje é vítima, para mostrar que agora é vítima porque não gritou antes. Não gritou quando outras instituições da democracia tão relevantes quanto foram atingidas”, afirmou Serrano em aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (19).

Segundo o jurista, o nível cotidiano de atrocidades proferidas por Bolsonaro, “um ser humano menor, desprovido de valores éticos e morais”, acaba criando certa “insensibilidade” a esse tipo de conduta. E não é apenas o presidente que afronta as instituições.

Para Serrano, a mídia se calou quando tanto Bolsonaro quanto o seu ministro da Justiça, Sergio Moro, atacaram o jornalista Glenn Greenwald, após a publicação da série de reportagens conhecida como Vaza Jato, que desvendou os bastidores da operação de Curitiba.

Ele lembra que o jornalista foi atacado também por sua orientação sexual, assim como Patrícia é atacada por ser mulher. Mais grave ainda, foram, além das agressões e converteram-se em ações concretas contra Glenn, com um processo movido por um procurador que poderia ter culminado com a sua prisão.

Da mesma forma que a Patrícia teve papel importante na questão dos disparos em massa das fake news, ele (Glenn) teve na Vaza Jato. Agora, parece que quando o agente é o ministro Moro – que é um Bolsonaro com punhos de renda, nada mais do que isso – uma parcela se cala e aceita tudo.” O risco, segundo Serrano, é que as reações de indignação que deveriam ocorrer em defesa dos valores universais se convertam em corporativismo.

O histórico de agressões de Bolsonaro inclui ainda ataques racistas, agressão contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS), contra homossexuais e contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, durante sessão do impeachment, quando homenageou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, ou ainda quando prometeu “fuzilar a petralhada” durante a campanha eleitoral.

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