Governo sem mulheres e negros não representa o País, diz presidenta Dilma
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Governo sem mulheres e negros não representa o País, diz presidenta Dilma

16/05/2016 3:23
Entrevista a veículos estrangeiros. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Entrevista a veículos estrangeiros. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff criticou nesta sexta-feira (13), em entrevista a jornalistas de veículos de comunicação estrangeiros, a ausência de mulheres e negros no Ministério anunciado pelo governo interino que tomou posse após seu afastamento temporário pelo Senado Federal. “Lamento que depois de muito tempo não tenha mulheres e negros no Ministério. A questão de gênero é democrática, fundamental num País em que, queiramos ou não, a maioria, mais de 50% são mulheres”, disse Dilma, acrescentando que as mulheres têm se provado competentes em todas as áreas.

A presidenta apontou um “problema de representatividade” na gestão interina, agravado pela falta de negros no primeiro escalão. “No Brasil, a desigualdade tem feições marcadas. Ela é negra, feminina, infantil e, obviamente, masculina. Mas negro, mulher [no governo] é algo fundamental se você quer de fato construir um pais inclusivo, não só do ponto de vista social, mas do ponto de vista cultural, dos direitos humanos”, acrescentou.

Pelo perfil dos auxiliares anunciados, Dilma avalia que a gestão provisória terá um perfil “liberal na economia e extremamente conservador na área de cultura e na área social”. “Os próximos dias vão confirmar ou rejeitar está hipótese”, disse.

Acompanhada de José Eduardo Cardozo — que continuará à frente de sua defesa após deixar a Advocacia Geral da União –, Dilma destacou que, passada a fase de aceitação do pedido, agora começa, de fato, o trabalho de defesa no processo de impeachment, e que essa defesa será feita no âmbito jurídico e no âmbito político, “para toda a sociedade brasileira”. “Pretendo sempre que for convidada, chamada, comparecer e de forma transparente, aberta, responder sobre as razões que levam a esse processo, às quais tenho uma profunda discordância, porque consideramos que não há base jurídica e, portanto, esse processo de impeachment é um golpe”, defendeu.

A presidenta ressaltou que, diferentemente do parlamentarismo, no presidencialismo o governante só pode ser afastado havendo “provas consistentes” de crime de responsabilidade, que não existem no atual processo.

O que está ocorrendo é [o uso de] um mecanismo político pelo qual aquelas pessoas que não foram eleitas, cujo programa de governo foi derrotado na eleição por 54 milhões de votos majoritários, tentam e querem usar da prerrogativa do impeachment fraudulento, portanto de um golpe, para executar um programa de governo que não foi aprovado nas urnas”, reiterou. “Eles não têm condições de chegar à Presidência da República pelo voto direto”.

Ela lembrou também que seu governo vem sofrendo, há 15 meses, “toda sorte de sabotagens”, como pedidos de recontagens de votos, questionamento da higidez das eleições e “pautas-bomba” no Congresso, para inviabilizar a agenda de continuidade das políticas sociais, da inclusão social e da retomada do crescimento econômico aprovada pelo voto popular.

Dilma também criticou os vazamentos seletivos e sistemáticos de investigações e processos judiciais sigilosos com o objetivo de desestabilizar sua gestão. “Tudo que se acusa contra nós é aceito, tudo que se acusa ou se pede investigação contra a oposição é recusado”, queixou-se.

Retorno e reforma política

Questionada sobre as chances de retorno ao cargo e de recomposição de uma base de apoio no Congresso, Dilma disse que lutará para mostrar ao País a situação política como ela de fato é. “O que tem hoje no Brasil é um governo provisório, um governo interino. E uma presidenta eleita por 54 milhões. Um um governo, portanto, interino e ilegítimo do ponto de vista de seus votos”, disse, acrescentando que também batalhará para recompor sua base de sustentação no futuro.

A presidenta, no entanto, defendeu a adoção de uma reforma política profunda, como forma de superação da crise e criticou a fragmentação do sistema partidário que dificulta a estabilidade do País.

Dilma lembrou das propostas apresentadas pelo governo após as manifestações de 2013, que previam a criação de uma assembleia constituinte exclusiva para a reforma política, dentre outras medidas

A presidenta ressaltou também que o País passou por aquele período de tensão nas ruas sem que houvesse qualquer ato de repressão pelo governo federal e, questionada, demonstrou preocupação caso cenário semelhante se repita agora. “Um governo ilegítimo precisa sempre de mecanismos ilegítimos pra se manter no poder”, sentenciou.

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