A presidenta legítima do Brasil, Dilma Rousseff, dá continuidade nesta segunda feira (17/04) à agenda de conferências e debates nos Estados Unidos. Após passar por Harvard, Princeton, Brown, Columbia e News School, Dilma fará palestras nas Universidades George Washington e Howard e se reunirá com pesquisadores da American University, todas sediadas em Washington. Ela também se encontra com grupos de ativistas que atuam internacionalmente contra o golpe parlamentar que a retirou da Presidência em agosto de 2016.
IMPASSES DOS GOLPISTAS
Segundo Dilma, os golpistas hoje vivem uma situação de muita dificuldade, um impasse, pois “ou eles entregam o que prometeram ao mercado e à mídia, ou perdem o prazo de validade. Acontece que haverá insatisfações monumental no Brasil com as perdas de direitos, e isso cria impasses em várias dimensões, já que os políticos no Congresso precisam dos seus eleitores”.
Portanto, na sua análise, a saída está no campo político, com a reunificação do País nas urnas, em 2018:
“Não haverá condição de estabilidade no País se a Constituição Federal não voltar a viger plenamente, se os espaços democráticos não forem restabelecidos, sem uma constituinte exclusiva que promova uma ampla reforma política. Para esses tempos estamos que estamos vivendo, é preciso firmeza e determinação e expandir o espaço democrático”.
MULHERES E MISOGINIA
Na semana passada foram intensas as atividades em três grandes universidades nova-iorquinas, mas também foi marcante a receptividade a Dilma Rousseff por movimentos sociais e políticos.
Um desses encontros foi organizado pela Fundação Ford, um almoço com 50 das mais importantes lideranças do movimento feminista sediado nos Estados Unidos. Redes, ongs e fundos internacionais de mulheres em luta pela igualdade e empoderamento social, político e econômico, como Centro pela Liderança Global das Mulheres, Fundo Global para Mulheres, Gênero e Trabalho, Fundo de Ação Urgente para Mulheres, entre outros, e redes internacionais pelo fim de todas as formas de discriminação e o racismo receberam Dilma no Church Center, em frente à sede das Nações Unidas para prestar solidariedade.
Elas ouviram e debateram sobre a genealogia do golpe e o peso da misoginia no processo implementado contra a presidenta e o seu projeto político:
“A pobreza no Brasil tem a cara de mulher, de negro, de mulher negra, e a desigualdade de gênero pode ser vista pela violência. Um tema pelo qual trabalhamos muito, com leis e políticas. Nós acreditamos nas mulheres e depositamos nelas muito de nossos programas de distribuição de renda e de riqueza. Infelizmente isso vem sendo desmontado, as políticas para mulheres, negros, indígenas, pois o governo que assumiu após o golpe é neoliberal e ultraconservador, é contra as mulheres, é de homens brancos, ricos, velhos”.
Sobre o caráter misógino do golpe, Dilma respondeu: “Eu não tenho nenhuma dúvida do aspecto misógino do golpe, pois as minhas características foram interpretadas a partir de um viés machista. ‘Firme,’ no meu caso é ‘dura’, ‘sensível‘, no meu caso é ‘ instável ‘, ‘ trabalhadora ,’ no meu caso é ‘ workaholic ou seja, me cobriram de estereótipos para me desqualificar como pessoa pública, como sempre fizeram com as mulheres”.
Ela responsabilizou a mídia pela construção de um imaginário contrário às mulheres, defendendo a necessidade de enfrentar o oligopólio nos meios de comunicação no País.
No entanto, acrescentou, “pela primeira vez , com a minha eleição, as meninas desse País puderam ver que podem ser presidentes e até brincar de presidentes. Isso muda a cultura, muda a história, traz esperanças a essas meninas”.
DEFEND DEMOCRACY IN BRAZIL
Da forma característica como atua, com criatividade e resistência nas ruas e na mídia, Dilma foi recepcionada na sede do The Murphy Institute, uma escola superior de Nova Iorque vinculada ao movimento sindical, pelo movimento Defend Democracy no Brasil. Ativistas sindicais, LGBTs, negros e feministas, entre outros, apresentaram as estratégias de rua usadas para denunciar o golpe em 2016, o que mantém o grupo unificado nas atividades permanentes que realiza. Dilma falou sobre o ataque à democracia e aos direitos humanos no Brasil.
“Embora acompanhe do Brasil, somente ao chegar aqui me dei conta do tamanho da resistência ao golpe fora do País. Esse trabalho tem sido decisivo para furar o bloqueio, em especial da mídia”, afirmou a presidenta.
Respondendo sobre o papel do ativismo hoje, reafirmou: “Conhecer para compreender e continuar demonstrando que a democracia foi violada, que 54 milhões 518 mil votos foram desrespeitados, e que precisamos resgatá-la com novas eleições e uma constituinte exclusiva”.
Na sua avaliação, as eleições no Brasil sempre foram momentos de transformação, sendo urgente e necessário recolocá-las na pauta da sociedade brasileira. “A outra luta é na resistência ao projeto de enquadramento no Brasil na agenda neoliberal, a razão fundamental do golpe, e a perda de direitos como forma de viabilizar um Estado a serviço do mercado, como eles desejam”.
AGENDA
A democracia no Brasil e seus desafios é o tema central de suas falas públicas a professores, estudantes, pesquisadores e ativistas. Na Howard University, uma escola superior fundada em 1876 em defesa do direito à educação e direitos civis da população afro-americana, enfatizará o tema da cultura do privilégio no país, o que dificulta a construção de uma sociedade menos desigual e a persistência do racismo. Com pesquisadores da American University, instituição dedicada aos estudos latino-americanos, Dilma deverá falar sobre a razão principal do golpe, o enquadramento econômico, social e geopolítico do Brasil no projeto neoliberal.
Na terça-feira, a presidenta profere conferência na George Washington University, onde enfatizará o processo de luta e resistência pela democracia, a convite da instituição. Esse evento será transmitido ao vivo.
Durante a semana, Dilma conversa com estudiosos no campo da Economia e da Ciência Política e se reúne com ativistas de direitos humanos, Brazil Expats, que atuam contra o golpe parlamentar sem crime de responsabilidade no Brasil. E com sindicalistas na sede da AFL-CIO para troca ideias acerca das ameaças e perdas dos trabalhadores brasileiros com as reformas que o atual governo pretende aprovar.