O Corona Vírus e a Crise Econômica agora no Blog, no Facebook e no Twitter para discutir as medidas necessárias para combater o Corona Vírus e mitigar as consequências sociais, econômicas, políticas, culturais, psicológicas etc. sobre a população brasileira e mundial.
Com o artigo o “Corona Vírus: o Martelo e a Dança” abrimos este espaço digital. Boa leitura!
Resumo do artigo: As fortes medidas sendo tomadas hoje para conter o coronavírus devem durar apenas algumas semanas, não deve haver um grande pico de infecções depois e tudo pode ser feito por um custo razoável para a sociedade, salvando milhões de vidas neste processo. Se não tomarmos essas medidas, dezenas de milhões serão infectados, muitos morrerão, assim como qualquer pessoa que precise de cuidados intensivos, porque o sistema de saúde entrará em colapso.
Dentro de uma semana, países de todo o mundo passaram de: “Esse negócio de coronavírus não é grande coisa” para declarações de estado de emergência. No entanto, muitos países ainda não estão fazendo muita coisa. Por quê?
Todo país está fazendo a mesma pergunta: como devemos responder? A resposta não é óbvia para eles.
Alguns países, como França, Espanha ou Filipinas, já pediram bloqueios pesados. Outros, como EUA, Reino Unido, Suíça ou Holanda, se enrolaram, hesitando em se aventurar em medidas de distanciamento social.
Aqui está o que abordaremos hoje, novamente com muitos gráficos, dados e modelos com muitas fontes:
1. Qual é a situação atual?
2. Que opções temos?
3. Qual é a única coisa que importa agora: o tempo
4. Como é uma boa estratégia de coronavírus?
5. Como devemos pensar sobre os impactos econômicos e sociais?
Quando você terminar de ler o artigo, você terá entendido que:
Nosso sistema de saúde já está em colapso.
Os países têm duas opções: ou enfrentam as dificuldades agora ou sofrerão uma enorme epidemia.
Se eles escolherem a epidemia, centenas de milhares morrerão. Em alguns países, milhões.
E isso talvez sequer irá eliminar mais ondas de infecções.
Se lutarmos muito agora, reduziremos as mortes.
Vamos aliviar o nosso sistema de saúde.
Vamos nos preparar melhor.
Nós aprenderemos.
O mundo nunca aprendeu tão rápido sobre nada, nunca.
E precisamos disso, porque sabemos muito pouco sobre esse vírus.
E tudo isso servirá para obter algo fundamental: ganhar tempo.
Semana passada eu mostrei essa curva:
Ele mostrava casos de coronavírus em todo o mundo fora da China. Só conseguimos discernir bem a Itália, o Irã e a Coréia do Sul. Então tive que dar um zoom no canto inferior direito para ver os países emergentes. Meu argumento é que eles logo se juntariam a esses três casos.
Vejamos o que aconteceu desde então:
Como previsto, o número de casos explodiu em dezenas de países. Aqui, fui forçado a mostrar apenas países com mais de 1.000 casos. Algumas coisas a serem observadas:
Você percebe algo de estranho nessa lista de países? Exceto pela China e o Irã, que sofreram surtos maciços e inegáveis, e do Brasil e da Malásia, todos os países desta lista estão entre os mais ricos do mundo.
Você acha que esse vírus tem como alvo países ricos? Ou é mais provável que os países ricos sejam mais capazes de identificar o vírus?
É improvável que os países mais pobres não sejam afetados. O clima quente e úmido provavelmente ajuda, mas não evita um surto por si só — caso contrário, Cingapura, Malásia ou Brasil não estariam sofrendo surtos.
As interpretações mais prováveis são de que o coronavírus demorou mais para chegar a esses países porque estes são menos conectados ou que o vírus já está lá, mas esses países não foram capazes de investir o suficiente em testes para saber.
De qualquer forma, se isso for verdade, significa que a maioria dos países não escapará ao coronavírus. É uma questão de tempo até que eles vejam surtos e precisem tomar medidas.
Que medidas podem ser adotadas pelos diferentes países?
Desde o artigo da semana passada, a conversa mudou e muitos países tomaram uma série de medidas. Aqui estão alguns dos exemplos mais ilustrativos:
Em um extremo, temos a Espanha e a França. Esta é a linha do tempo das medidas tomadas pela Espanha:
Na quinta-feira, 12 de março, o presidente rejeitou sugestões de que as autoridades espanholas estavam subestimando a ameaça à saúde.
Na sexta-feira, eles declararam o estado de emergência.
No sábado, foram tomadas as seguintes medidas:
Na segunda-feira, as fronteiras terrestres foram fechadas.
Algumas pessoas vêem isso como uma ótima lista de medidas. Outros colocam as mãos no ar e choram de desespero. Essa diferença é o que este artigo tentará reconciliar.
O cronograma de medidas tomadas na França é semelhante, exceto que levaram mais tempo para aplicá-las e agora são mais agressivas. Por exemplo, aluguel, impostos e serviços públicos foram suspensos para pequenas empresas.
Medidas tomadas nos Estados Unidos e Inglaterra
Os EUA e o Reino Unido, tal como a Suíça e a Holanda, hesitaram na implementação de medidas. Aqui está a linha do tempo para os EUA:
Quarta-feira 11 de março: proibição de viagens.
Sexta-feira: Emergência Nacional declarada. Nenhuma medida de distanciamento social.
Segunda-feira: o governo pede que o público evite restaurantes ou bares e que participe de eventos com mais de 10 pessoas. Nenhuma medida de distanciamento social é realmente imposta. Trata-se apenas de uma sugestão.
Muitos estados e cidades passaram a tomar a iniciativa, obrigando medidas muito mais rigorosas.
O Reino Unido viu um conjunto de medidas semelhantes: muitas recomendações, mas muito poucas obrigações.
Esses dois grupos de países ilustram as duas abordagens extremas para combater o coronavírus: mitigação e supressão. Vamos entender o que elas significam.
Antes de analisarmos essas duas abordagens, vamos ver o que não fazer nada implicaria para um país como os EUA:
Se não fizermos nada: todo mundo é infectado, o sistema de saúde fica sobrecarregado, a mortalidade explode e aproximadamente 10 milhões de pessoas morrem (barras azuis). Numa conta simples: se aproximadamente 75% dos americanos são infectados e 4% morrem, são 10 milhões de mortes, ou cerca de 25 vezes o número de mortes de americanos na Segunda Guerra Mundial.
Você deve estar se perguntando: “Isso parece muito. Eu ouvi falar muito menos que isso!”
Então, qual é o “truque”? Com todos esses números, é fácil ficar confuso. Mas existem apenas dois números importantes: que parcela das pessoas contrai o vírus e adoece e qual parcela delas morre. Se apenas 25% estiverem doentes (porque os outros têm o vírus, mas não apresentam sintomas, não são contabilizados como casos) e a taxa de mortalidade é de 0,6% em vez de 4%, você acaba com 500 mil mortes nos EUA. Ainda assim é muito. Mas é 20 vezes menos que o projetado acima.
A taxa de mortalidade é crucial, então vamos entendê-la melhor. O que realmente causa a morte por coronavírus?
Este é o mesmo gráfico de antes, mas agora olhando para as pessoas hospitalizadas em vez de infectadas e mortas:
A área azul claro é o número de pessoas que precisariam ir ao hospital, e o azul mais escuro representa aqueles que precisam ficar na unidade de terapia intensiva (UTI). Você pode observar que esse número atinge um pico acima dos 3 milhões.
Agora compare isso com o número de leitos de UTI que temos nos EUA. É a linha pontilhada vermelha. São 50 mil hoje. Até poderíamos dobrar esse número readequando o espaço interno dos hospitais.
Não, esse não é um erro.
Essa linha pontilhada vermelha é a capacidade que temos de leitos de UTI. Todos acima dessa linha estariam em estado crítico, mas não poderiam acessar os cuidados de que precisam e provavelmente morreriam.
Em vez de leitos de UTI, você poderia olhar para o número de ventiladores médicos, mas o resultado é o mesmo, já que existem menos de 100 mil destes ventiladores nos EUA.
Atualmente, pelo menos um hospital de Seattle já não está conseguindo intubar pacientes acima de 65 anos devido à escassez de equipamentos, o que lhes dá 90% de chance de morrer.
É por isso que as pessoas morreram em massa em Hubei e agora estão morrendo em massa na Itália e no Irã. A taxa de mortalidade de Hubei acabou sendo melhor do que poderia ter sido porque eles construíram dois hospitais quase da noite para o dia. Itália e Irã não podem fazer o mesmo; poucos outros países poderão. Vamos ver o que acabará acontecendo neles.
Então, por que a taxa de mortalidade é próxima de 4%?
Se 5% dos casos requerem tratamento intensivo e você não pode fornecê-lo, a maioria dessas pessoas morre. Simples assim.
Além disso, dados recentes sugerem que os casos nos EUA podem ser mais graves do que na China.
Eu gostaria que toda história ruim acabasse aqui, mas não acaba.
Esses números mostram apenas pessoas morrendo de coronavírus. Mas o que acontece se todo o seu sistema de saúde colapsar por ter que atender pacientes com coronavírus? Outros também morrerão de outras doenças.
O que acontece se você tiver um ataque cardíaco, mas a ambulância demorar 50 minutos para chegar ao invés de 8 (por conta dos muitos casos de coronavírus) e, assim que você chegar, não tem UTI nem médico disponível? Você morre.
Há 4 milhões de internações em UTI nos EUA todos os anos, e 500 mil (aproximadamente 13%) deles morrem. Sem leitos de UTI, essa participação provavelmente se aproximaria de 80%. Mesmo que apenas 50% venham a morrer, em uma epidemia de um ano, você passa de 500 mil mortes por ano para 2 milhões, adicionando 1,5 milhão de mortes, apenas de danos colaterais.
Se o coronavírus se espalhar, o sistema de saúde dos EUA entrará em colapso e as mortes serão de milhões, talvez mais de 10 milhões.
O mesmo raciocínio vale para a maioria dos países. O número de leitos e ventiladores médicos nas UTI e de profissionais de saúde geralmente são semelhantes aos EUA ou até mais baixos para a maioria dos países. Um coronavírus sem freios implicaria no colapso do sistema de saúde, e isso significa morte em massa.
Com o que explicamos até agora, espero que esteja bem claro que devemos agir. As duas opções que temos são mitigação e supressão.
A ideia da mitigação é essa: “É impossível impedir o coronavírus agora, então vamos deixá-lo seguir seu curso, enquanto tentamos reduzir o pico de infecções. Vamos achatar um pouco a curva para torná-la mais gerenciável para o sistema de saúde”.
Este gráfico apareceu em um artigo muito importante publicado no fim de semana no Imperial College de Londres. Aparentemente, ele levou os governos do Reino Unido e dos EUA a mudarem de rumo.
É um gráfico muito semelhante ao anterior. Não é o mesmo, mas é conceitualmente equivalente. Aqui, a opção de “Não faça nada” é a curva em preto. Cada uma das outras curvas é o que aconteceria se implementássemos medidas de distanciamento social cada vez mais pesadas. A linha azul mostra as medidas sociais de distanciamento mais difíceis : isolar pessoas infectadas, colocar em quarentena pessoas que possam estar infectadas e isolar idosos. Essa linha azul é, de modo geral, a atual estratégia do Reino Unido para o coronavírus, embora, por enquanto, eles estejam apenas sugerindo que as pessoas sigam as medidas, e não as obrigando.
Aqui, novamente, a linha vermelha é a capacidade das UTIs, desta vez no Reino Unido. Novamente, essa linha está muito perto do fundo. Toda essa área da curva no topo dessa linha vermelha representa pacientes com coronavírus que morreriam principalmente por falta de recursos na UTI.
Não apenas isso mas, apenas “achatando a curva”, as UTIs entrarão em colapso por meses, aumentando as mortes por danos colaterais.
Você deveria ficar em choque. Quando você ouvir: “Nós vamos fazer algumas medidas de mitigação”, o que você realmente deve ouvir é: “Vamos conscientemente sobrecarregar o sistema de saúde, elevando a taxa de mortalidade em um fator de pelo menos 10 vezes”.
Você poderia imaginar que isso já é ruim o suficiente. Mas ainda não terminamos. Porque uma das principais premissas dessa estratégia é o que chamamos de “imunidade de rebanho”.
A ideia é que todas as pessoas que se infectarem e então se recuperem estarão então imunes ao vírus. Esta é a essência dessa estratégia: “Olha, eu sei que vai ser difícil por algum tempo, mas assim que terminarmos e alguns milhões de pessoas morrerem, o resto de nós ficará imune a ela, então esse vírus irá parar de se espalhar e vamos nos despedir do coronavírus. É melhor fazê-lo de uma vez e acabar logo com isso, porque nossa alternativa é fazer distanciamento social por até um ano ou arriscar que esse pico aconteça mais tarde. ”
Só que isso pressupõe uma coisa: o vírus não muda muito. Se não muda muito, muitas pessoas ficam imunes e, em algum momento, a epidemia morre.
Qual a probabilidade desse vírus sofrer mutação?
Ele já sofreu.
A China já viu duas cepas do vírus: o S e o L. O S ficou mais focado em Hubei e é mais mortal, mas o L foi o que se espalhou pelo mundo.
Não só isso, mas esse vírus continua a sofrer mutações.
Isso não deveria surpreender: vírus baseados em RNA, como o coronavírus ou a gripe, tendem a sofrer mutações cerca de 100 vezes mais rápidas que os baseados em DNA — embora o coronavírus sofra uma mutação mais lenta do que os vírus influenza(gripe).
Não apenas isso, mas a melhor maneira desse vírus sofrer mutação é ter milhões de oportunidades para fazê-lo, exatamente o que uma estratégia de mitigação proporcionaria: centenas de milhões de pessoas infectadas.
É por isso que você precisa tomar a vacina pra gripe todos os anos. Como existem tantas cepas de gripe, com as novas sempre evoluindo, a vacina nunca consegue proteger contra todas as cepas.
Em outras palavras: a estratégia de mitigação não pressupõe apenas milhões de mortes para um país como os EUA ou o Reino Unido. Também faz uma aposta de que o vírus não sofrerá muitas mutações— mas sabemos que ele sofre. E isso dará a oportunidade dele mutar. Assim, quando terminarmos com alguns milhões de mortes, estaremos então prontos para mais alguns milhões — todos os anos. Esse vírus corona pode se tornar um fato recorrente da vida, como a gripe, mas muitas vezes mais mortal.
A melhor maneira desse vírus sofrer mutação é ter milhões de oportunidades para fazê-lo, exatamente o que uma estratégia de mitigação proporcionaria.
Então, se não fazer nada ou mitigar irá funcionar, qual é a alternativa? A alternativa se chama supressão.
A estratégia de mitigação não tenta conter a epidemia, apenas “achatar a curva” um pouco. Enquanto isso, a Estratégia de Supressão tenta aplicar medidas pesadas para rapidamente controlar a epidemia. Especificamente:
Com o que isso se pareceria?
Na estratégia de supressão, após a primeira onda, o número de mortos é de milhares, e não de milhões.
Por quê? Porque não apenas cortamos o crescimento exponencial dos casos. Também reduzimos a taxa de mortalidade, uma vez que o sistema de saúde não está completamente sobrecarregado. Aqui, usei uma taxa de mortalidade de 0,9%, em torno do que estamos vendo hoje na Coréia do Sul, que foi mais eficaz em seguir a Estratégia de Supressão.
Dito assim, parece não restar dúvidas do que ser feito. Todos devem seguir a Estratégia de Supressão.
Então, por que alguns governos hesitam?
Eles temem três coisas:
Aqui está o modo como a equipe do Imperial College modelou a estratégia de Supressão. As linhas verde e amarela são diferentes cenários de supressão. Você pode ver que isso não parece nada bom: ainda temos picos enormes, então por que se preocupar em fazer algo?
Chegaremos a essas perguntas em breve, mas há algo mais importante antes.
Isso está completamente errado.
Apresentadas dessa maneira, as duas opções de Mitigação e Supressão, lado a lado, não parecem muito atraentes. Muitas pessoas morrem logo e não prejudicamos a economia hoje, ou prejudicamos a economia hoje, apenas para adiar as mortes.
Isso ignora o valor do tempo.
Em nosso post anterior, explicamos o valor em ganharmos tempo para salvar vidas. Todos os dias, a cada hora que esperávamos para tomar medidas, essa ameaça exponencial continuava se espalhando. Vimos como um único dia poderia reduzir o total de casos em 40% e o número de mortos em ainda mais.
Mas o tempo é ainda mais valioso que isso.
Estamos prestes a enfrentar a maior onda de pressão sobre o sistema de saúde já vista na história. Estamos completamente despreparados, enfrentando um inimigo que não conhecemos. Essa não é uma boa posição para a guerra.
E se você estivesse prestes a enfrentar seu pior inimigo, do qual sabe muito pouco a respeito, e tivesse duas opções: correr em direção a ele ou fugir para ganhar um pouco de tempo para se preparar. Qual dessas você escolheria?
É isso que precisamos fazer hoje. O mundo acordou. Todos os dias em que atrasamos o coronavírus, podemos nos preparar melhor. As próximas seções detalham o que esse tempo nos compraria:
Com uma estratégia de supressão eficaz, o número de casos verdadeiros despencaria da noite para o dia, como vimos acontecer em Hubei na semana passada.
Atualmente, existem 0 novos casos diários de coronavírus em toda a região de Hubei, com 60 milhões de habitantes.
Com medidas de Supressão os diagnósticos positivos continuariam aumentando por algumas semanas, mas depois começariam a diminuir. Com menos casos, a taxa de mortalidade também passaria a cair. E o dano colateral também seria reduzido: menos pessoas morreriam por causas não relacionadas ao coronavírus, o que ocorre quando o sistema de saúde está simplesmente sobrecarregado.
Supressão nos proporcionaria:
No momento, o Reino Unido e os EUA não têm ideia de quantos casos verdadeiros eles tem. Não sabemos quantos contraíram o vírus. Só sabemos que o número oficial não está certo e o verdadeiro está nas dezenas de milhares de casos. Isso aconteceu porque não estamos testando e não estamos rastreando os contatos.
As medidas desta seção (testes e rastreamento) por si só impediram o crescimento do coronavírus na Coréia do Sul e controlaram a epidemia, sem uma forte imposição de medidas de distanciamento social.
Os EUA (e presumivelmente o Reino Unido) estão prestes a entrar em uma guerra sem armadura.
Temos máscaras para apenas duas semanas, poucos equipamentos de proteção individual (EPI), ventiladores médicos insuficientes, leitos de UTI insuficientes, ECMOs (máquinas de oxigenação sanguínea)… É por isso que a taxa de mortalidade seria tão alta em uma estratégia de mitigação.
Mas se comprarmos algum tempo, podemos mudar isso:
Em outras palavras: não precisamos de anos para conseguir nossa armadura, precisamos de semanas. Vamos fazer tudo o que pudermos para fazer nossa produção aumentar agora mesmo. Os países estão mobilizados. As pessoas estão sendo criativas, tal como o uso da impressão 3D para peças do ventilador. Nós podemos fazer isso. Só precisamos de mais tempo. Você esperaria algumas semanas para conseguir uma armadura antes de enfrentar um inimigo mortal?
Esta não é a única capacidade de que precisamos. Precisamos de profissionais de saúde o mais rápido possível. Onde vamos obtê-los? Precisamos treinar pessoas para auxiliar os enfermeiros e chamar médicos aposentados. Muitos países já começaram a fazer isso, mas leva tempo. Podemos fazer isso em algumas semanas, mas não se tudo desmoronar.
O público está assustado. O coronavírus é novo. Há muita coisa que ainda não aprendemos como fazer! As pessoas não aprenderam a parar de apertar as mãos. Eles ainda se abraçam. Eles não abrem portas com o cotovelo. Eles não lavam as mãos depois de tocar na maçaneta da porta. Eles não desinfetam as mesas antes de se sentarem.
Quando tivermos máscaras suficientes, também podemos usá-las fora do sistema de saúde. No momento, é melhor manter máscaras para os profissionais de saúde. Mas se elas não fossem escassas, as pessoas deveriam usá-las em suas vidas diárias, tornando menos provável que infectem outras pessoas quando estiverem doentes e, com o treinamento adequado de como vestir a máscara, também reduziriam a probabilidade de se serem infectadas. (Enquanto isso, usar algo é melhor que nada.)
Todas essas são maneiras bastante baratas de reduzir a taxa de transmissão. Quanto menos esse vírus se propagar, menos medidas precisaremos no futuro para contê-lo. Mas precisamos de tempo para educar as pessoas sobre todas essas medidas e equipá-las.
Sabemos muito pouco sobre o vírus. Mas a cada semana, centenas de novos artigos estão sendo publicados
O mundo está finalmente unido contra um inimigo comum. Pesquisadores de todo o mundo estão se mobilizando para entender melhor esse vírus.
Como o vírus se espalha?
Como tornar o contágio mais lento?
Qual a proporção de portadores assintomáticos?
Eles são contagiosos? Quanto?
Quais são os bons tratamentos?
Quanto tempo o vírus sobrevive?
Em que superfícies?
Como as diferentes medidas de distanciamento social afetam a taxa de transmissão?
Qual é o custo dessas medidas?
Quais são as melhores práticas de rastreamento de casos?
Quão confiáveis são nossos testes?
Respostas claras a essas perguntas ajudarão a tornar nossas respostas o mais bem direcionadas possível, minimizando os danos econômicos e sociais colaterais. E eles durarão semanas, não anos.
Não apenas isso, mas e se encontrássemos um tratamento nas próximas semanas? Qualquer dia que ganharmos nos aproxima disso. No momento, já existem vários candidatos, como Favipiravir ou Cloroquina. E se, em dois meses, descobríssemos um tratamento para o coronavírus? Quão estúpidos pareceríamos se já tivéssemos milhões de mortes seguindo uma estratégia de mitigação?
Todos os fatores acima podem nos ajudar a salvar milhões de vidas. Isso deve ser o suficiente. Infelizmente, os políticos não podem pensar apenas na vida dos infectados. Eles devem pensar em toda a população e medidas pesadas de distanciamento social têm impacto sobre os outros.
No momento, não temos ideia de como as diferentes medidas de distanciamento social reduzem a transmissão da doença. Também não temos ideia de quais são seus custos econômicos e sociais.
É um pouco difícil decidir que medidas precisamos a longo prazo se não soubermos seu custo ou benefício.
Algumas semanas nos dariam tempo suficiente para começar a estudá-los, entendê-los, priorizá-los e decidir quais medidas seguir.
Menos casos, mais compreensão do problema, produção de recursos, compreensão do vírus, entendimento da relação custo-benefício de diferentes medidas, educação do público … Essas são algumas das principais ferramentas para combater o vírus e precisamos de apenas algumas semanas para desenvolver muitas delas. Não seria estúpido nos comprometermos com uma estratégia que nos lança, despreparados, nas mandíbulas de nosso inimigo?
Agora sabemos que a Estratégia de Mitigação é provavelmente uma escolha terrível e que a Estratégia de Supressão tem uma enorme vantagem a curto prazo.
Mas as pessoas têm preocupações legítimas sobre esta estratégia:
Aqui, veremos como seria uma verdadeira estratégia de supressão. Podemos chamá-lo de Martelo e Dança.
Primeiro, você age de forma rápida e agressiva. Por todas as razões mencionadas acima, dado o valor do tempo, queremos extinguir isso o mais rápido possível.
Uma das perguntas mais importantes é: quanto tempo isso vai durar?
O medo que todo mundo tem é que fiquemos trancados em nossas casas por meses e meses, acompanhado de um desastre econômico e colapsos mentais. Infelizmente, essa ideia foi acolhida no famoso artigo da Universidade Imperial de Londres:
Você se lembra deste gráfico? A área azul clara que vai do final de março ao final de agosto é o período que o artigo recomenda como o “Martelo”, a supressão inicial que inclui um grande distanciamento social.
Se você é um político e vê que uma opção é matar centenas de milhares ou milhões de pessoas com uma estratégia de mitigação e a outra é parar a economia por cinco meses antes de passar pelo mesmo pico de casos e mortes novamente, essas não parecem opções convincentes.
Mas isso não precisa ser assim. Este artigo, foi brutalmente criticado por conter algumas falhas fundamentais: eles ignoram a possibilidade de rastreamento de contatos (prática que está no centro das políticas na Coréia do Sul, China ou Cingapura, entre outros) ou restrições de viagens (críticas na China), ignoram o impacto de grandes multidões…
O tempo necessário para o “Martelo” é de semanas, não meses.
Este gráfico mostra os novos casos em toda a região de Hubei (60 milhões de pessoas) todos os dias desde 23/01. Dentro de duas semanas, o país estava começando a voltar ao trabalho. Dentro de aproximadamente 5 semanas, estava completamente sob controle. E, dentro de sete semanas, novos diagnósticos já eram apenas “pingos” no gráfico. Lembremos que essa foi a região pior atingida na China.
Lembre-se novamente que estas são as barras laranja. As barras cinzas, os casos verdadeiros, haviam despencado muito antes.
As medidas tomadas foram bastante semelhantes às tomadas na Itália, Espanha ou França: isolamentos, quarentenas, as pessoas tiveram que ficar em casa, a menos que houvesse uma emergência ou para comprar alimentos, rastrear contatos, testar se haviam contraído a doença. mais camas de hospital, proibições de viagens …
Porém, a diferença mora nos detalhes.
As medidas chinesas eram, no entanto, mais rigorosas: por exemplo, apenas uma pessoa por família era autorizada a sair de casa, a cada três dias, para comprar comida. Além disso, a aplicação da medida foi levada a sério pelas autoridades. É provável que essa atitude severa tenha interrompido a epidemia mais rapidamente.
Na Itália, França e Espanha, as medidas não foram tão drásticas e sua implementação não foi tão levada a sério. As pessoas ainda andam nas ruas, muitas sem máscaras. É provável que isso resulte em um martelo mais lento: mais tempo para controlar totalmente a epidemia.
Algumas pessoas interpretam isso como “Democracias nunca serão capazes de replicar essa redução nos casos”. Isto é errado.
Durante várias semanas, a Coréia do Sul teve a pior epidemia fora da China. Agora, está amplamente sob controle. E eles fizeram isso sem pedir que as pessoas ficassem em casa. Eles o alcançaram principalmente com testes muito agressivos, rastreamento de contatos e quarentenas e isolamentos forçados.
Se um surto como o da Coréia do Sul puder ser controlado em semanas e sem distanciamento social obrigatório, os países ocidentais, que já estão aplicando um martelo pesado com medidas estritas de distanciamento social, podem definitivamente controlar o surto em semanas. É uma questão de disciplina, execução e quanto a população cumpre as regras.
Isso depende da resistência da fase após o Martelo: a Dança.
Se você “martelar” o coronavírus, em algumas semanas você o controlará e estará em uma situação muito melhor de resolvê-lo. Agora vem o esforço de longo prazo para manter esse vírus contido até que haja uma vacina.
Este é provavelmente o maior e mais importante erro que as pessoas cometem ao pensar neste estágio: pensam que isso os manterá em casa por meses. Este não é o caso. De fato, é provável que nossas vidas voltem razoavelmente próximo ao normal.
A Dança nos países que mostraram sucesso
Como a Coréia do Sul, Cingapura, Taiwan e Japão têm casos há tanto tempo (no caso da Coréia do Sul, milhares deles) e ainda assim não estão trancados em casa?
Neste vídeo, a Ministra das Relações Exteriores da Coréia do Sul explica como seu país fez isso. Foi bem simples: testes eficientes, rastreamento eficiente, proibições de viagens, isolamento eficiente e quarentena eficiente.
Este artigo explica a abordagem de Cingapura: Interrupting transmission of COVID-19: lessons from containment efforts in Singapore
Quer chutar quais medidas tomaram? As mesmas que a Coréia do Sul. No caso deles, complementaram com medidas de ajuda econômica àqueles em quarentena e proibições ou atrasos de viagens.
É tarde demais para outros países? Não. Ao aplicar o “Martelo”, você terá uma nova chance, uma nova chance de fazer isso corretamente.
Mas e se todas essas medidas não forem suficientes?
A Dança do “R”
Chamo o período de meses entre o Martelo e uma vacina de “Dança”, porque não será um período durante o qual as medidas serão sempre igualmente duras. Algumas regiões verão surtos novamente, outras não, por longos períodos de tempo. Terá momentos em que precisaremos reforçar as medidas de distanciamento social, e momentos em que seremos capazes de ficar sem elas, a depender da evolução dos casos. Essa é a “dança do R”: uma dança de medidas que alternarão entre colocar nossas vidas de volta nos trilhos e impedir que se espalhe a doença, uma dança entre a economia e saúde.
Como essa dança funciona?
Tudo gira em torno de R. Se você se lembra, “R” é a taxa de transmissão. No início, em um país despreparado padrão, o R fica entre 2 e 3, ou seja, durante as poucas semanas em que alguém está infectado, esta pessoa infecta entre 2 e 3 outras pessoas, em média.
Se R estiver acima de 1, as infecções crescem exponencialmente em uma epidemia. Se estiver abaixo de 1, a epidemia se esvai.
Durante o Martelo, o objetivo é obter R o mais próximo de zero, o mais rápido possível, para esmagar a epidemia. Em Wuhan, calcula-se que o R era inicialmente 3,9 e, após o bloqueio e quarentena centralizada, caiu para 0,32.
Mas assim que você altera para a fase da “Dança”, não é mais necessário fazer isso. Você só precisa que o seu R fique abaixo de 1. E há muito que se pode fazer apenas com algumas medidas simples.
Esta é uma aproximação de como diferentes tipos de pacientes respondem ao vírus, bem como de sua contagiosidade. Ninguém sabe a verdadeira forma dessa curva, mas reunimos dados de diferentes documentos para aproximar a aparência dela.
Todos os dias após a contração do vírus, as pessoas têm algum potencial de contágio. Juntos, todos esses dias de contágio somam 2,5 contágios em média.
Acredita-se que já existam contágios durante a fase “sem sintomas”. Depois disso, à medida que os sintomas aumentam, geralmente as pessoas vão ao médico, são diagnosticadas e sua contagiosidade diminui.
Por exemplo, no início você tem o vírus, mas não apresenta sintomas, e se comporta normalmente. Quando você fala com pessoas, você espalha o vírus. Quando você toca o nariz e abre a maçaneta da porta, as próximas pessoas que abrem a porta e tocam o nariz e são infectadas.
Quanto mais o vírus cresce dentro de você, mais infeccioso você se torna. Então, quando você começar a ter sintomas, poderá parar lentamente de ir ao trabalho, ficar na cama, usar uma máscara ou ir ao médico. Quanto maiores os sintomas, mais você se distancia socialmente, reduzindo a propagação do vírus.
Depois de hospitalizado, mesmo sendo muito contagioso, você não tende a espalhar o vírus assim que esteja isolado.
É aqui que você pode ver o enorme impacto de políticas como as de Cingapura ou da Coréia do Sul:
Somente quando tudo isso falha é que precisamos de medidas mais rígidas de distanciamento social.
O retorno sobre o investimento (ROI) do distanciamento social
Se, com todas essas medidas, ainda estamos muito acima de R=1, precisamos reduzir o número médio de pessoas que cada indivíduo encontra.
Existem algumas maneiras muito baratas de fazer isso, como proibir eventos com mais de um certo número de pessoas (por exemplo, 50, 500) ou pedir que as pessoas trabalhem em casa quando puderem.
Outras são muito, muito mais caras, como fechar escolas e universidades, pedir a todos para ficarem em casa ou fechar bares e restaurantes.
Podemos dizer que este gráfico foi “inventado”, porque não existe hoje. Ninguém fez pesquisas suficientes sobre isso ou reuniu todas essas medidas de maneira a compará-las.
É lamentável, porque é o gráfico que os políticos mais precisariam para tomar decisões. Ele ilustra o que realmente está passando em suas cabeças.
Durante o período do Martelo, eles querem manter o R no nível mais baixo possível, através de medidas que sejam toleráveis para a população. Em Hubei, eles chegaram a 0,32. Talvez não precisemos disso: talvez apenas 0,5 ou 0,6 baste.
Mas, durante o período da Dança do R, eles querem pairar o mais próximo possível de 1, mantendo-se abaixo dele a longo prazo.
O que isso significa é que, quer os líderes percebam ou não, o que eles estão fazendo é:
Inicialmente, a confiança nesses números será baixa. Contudo, vale observar que é assim que os tomadores de decisão estão pensando — e é exatamente assim que eles deveriam pensar!
O que eles precisam fazer é formalizar o processo. Entender que este é um jogo de números no qual precisamos aprender o mais rápido possível onde estamos no R, o impacto de todas as medidas na redução do R e seus custos sociais e econômicos.
Somente então eles serão capazes de tomar uma decisão racional sobre quais medidas deverão tomar.
O coronavírus ainda está se espalhando por quase todos os lugares. Já são 152 países com casos confirmados. Estamos lutando contra o tempo. Mas não precisa ser assim: existe um modo claro de pensar e agir sobre esse problema.
Algumas pessoas em certos países, especialmente naqueles locais que ainda não foram afetados pelo coronavírus, podem estar se perguntando: isso vai acontecer aqui? A resposta é: provavelmente já aconteceu. Você, seus conhecidos, e talvez até representantes do Estado que simplesmente não notaram ainda. Quando o coronavírus for realmente detectado, seu sistema de saúde estará em uma situação ainda pior do que nos países ricos onde os sistemas de saúde são fortes. Melhor prevenir do que remediar: considere tomar medidas agora.
Para os países onde o coronavírus já foi detectado, as opções são claras.
Uma opção que os países contaminados podem seguir é o da mitigação: criar uma epidemia maciça, sobrecarregar o sistema de saúde, levar a morte de milhões de pessoas e liberar novas mutações desse vírus.
E há também a outra opção, os países podem lutar. Eles podem se fechar por algumas semanas para ganhar tempo, criar um plano de ação bem embasado e controlar esse vírus até que tenhamos uma vacina.
Os governos de todo o mundo hoje, incluindo de alguns países como EUA, Reino Unido, Suíça ou Holanda escolheram, até agora, o caminho de mitigação.
Isso significa que eles estão desistindo sem lutar. Eles veem outros países tendo sucesso no combate ao coronavírus mas dizem: “Não podemos fazer isso!”
E se Churchill tivesse dito a mesma coisa? “Os nazistas já estão em toda parte na Europa. Nós não podemos lutar contra eles. Vamos desistir.” É o que muitos governos ao redor do mundo estão fazendo hoje. Eles não estão dando a você uma chance de combater isso. Você tem que exigir isso deles.
Infelizmente, milhões de vidas ainda estão em jogo. Compartilhe este artigo — ou outro semelhante — se você acha que isso pode mudar a opinião das pessoas. Os líderes precisam entender isso para evitar uma catástrofe. O momento de agir é agora.
*Texto de Tomas Pueyo, traduzido pelo movimento Altruísmo Eficaz.