A escritora Naomi Klein, autora do livro “A Doutrina do Choque – a ascensão do capitalismo de desastre”, publicou um tuíte nesta sexta-feira em que acusa Bolsonaro de responsabilidade pelas queimadas na Amazônia, mas ressalta que ele só chegou ao poder porque o governo Dilma foi alvo de um golpe e o presidente Lula foi preso ilegalmente. Eis o tuite da escritora em inglês e, depois, em português:
“Enquanto observamos a Amazônia queimar, lembre-se: A presidência de @jairbolsonaro é em si uma cena de crime. Ele está no poder apenas por causa de uma série de golpes ilegais – primeiro contra Dilma, depois Lula, que teria facilmente derrotado Bolsonaro nas urnas. Antes do Brasil queimar, houve um roubo.”
Em seu livro, Naomi Klein denomina os ataques orquestrados à esfera pública, ocorridos no auge de acontecimentos catastróficos, crises políticas e econômicas, como essenciais ao capitalismo do caos. Tais desastres são tratados como estimulantes oportunidades de mercado, para a introdução das reformas do neoliberalismo.
Naomi Klein mostra que Milton Friedman, o mais destacado representante dessa ideologia, aprimorou a estratégia de implantação do neoliberalismo: esperar uma grave crise, vender partes do Estado para investidores privados, enquanto os cidadãos ainda se recuperam do choque, e depois transformar as “reformas” em mudanças permanentes.
Friedman elaborou, em termos teóricos, a tática nuclear do capitalismo contemporâneo neoliberal, ou seja, a doutrina do choque. Ele defendia que “somente uma crise – real ou pressentida – produz mudança verdadeira. Quando a crise acontece, as ações que são tomadas dependem das ideias que estão à disposição. Esta, (diz ele), eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las em evidência e acessíveis até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável”. Isto aconteceu no Brasil com o golpe de 2016 – o impeachment sem crime de responsabilidade- e sua continuidade, com a prisão de Lula, impedindo-o de concorrer à presidência. Agora, com Bolsonaro no governo, o capitalismo neoliberal do desastre é coroado.
Naomi mostra que Friedman defendia que era essencial agir rapidamente, impondo mudanças súbitas e irreversíveis, antes que a sociedade abalada pela crise pudesse perceber o desastre. Assim, “uma nova administração tem de 6 a 9 meses para realizar as principais mudanças; caso não agarre a oportunidade para agir de modo decisivo durante este período, não haverá outra chance igual”.
Por isto, Bolsonaro, nos seus oito meses de governo, corre para destruir o meio ambiente, extinguir direitos trabalhistas e previdenciários, vender e desnacionalizar empresas estatais, entregar território brasileiro para uma base militar americana, institucionalizar a violência e armar a população. Este é o legado de Friedman, que Bolsonaro segue à risca, o que o faz agente e cúmplice do fogo que destrói a amazônia brasileira.