FRENTES DE LUTA SÃO UM GANHO IMPORTANTE
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FRENTES DE LUTA SÃO UM GANHO IMPORTANTE

Presidenta eleita afirma nos Estados Unidos que há um grande risco de que a eleição deste ano se transforme numa farsa

18/04/2018 12:55

— A vida, a luta e a morte de Marielle mostram como a democracia no Brasil é frágil. Mais frágil ainda se você for mulher, negra, pobre, LGBT e da periferia. A minha pergunta tem a ver com o papel do otimismo nestes tempos escuros do Brasil. Imagino que a senhora, que foi prisioneira política na época da ditadura, e que chegou até à presidência, deve ser uma pessoa muito otimista. Quero saber se você tem motivos para ser otimista neste momento.

— A sua pergunta é uma declaração muito bonita. Durante a minha vida eu perdi e continuei fazendo política. Comecei a fazer política com 15, 16 anos. Depois, lutei contra a ditadura, entrei para a clandestinidade, fui para a prisão, onde fiquei três anos. E acredito que quando você acha importante ajudar nos processos de transformação, sua maior realização não é colocar o seu interesse, mas o interesse dos outros. Política não é só partidária. É algo que nasceu junto com a democracia. É você ser capaz de pensar a sua comunidade, a sua cidade, o seu país e o mundo. Eu acredito que nós não só somos seres sociais, como podemos ser seres cooperativos. Não é a concorrência que caracteriza a nossa relação. Acredito que é a cooperação. Por esta convicção, eu sou uma ‘otimista da vontade’, como diz um filósofo italiano. Mas sou, ao mesmo tempo, uma ‘realista da razão’. Nós só podemos ser capazes de interferir e de mudar as condições que nos são impostas se formos capazes de compreender o que está acontecendo. Se nós não compreendermos o que está acontecendo, a gente erra no que vai fazer.

Hoje, estamos num momento muito obscuro no Brasil. Acho que ninguém sabe o que irá acontecer. Há probabilidades altas. Estas probabilidades altas levam a um impasse e a uma não-solução, que é a tentativa de transformar a próxima eleição numa farsa. Isto é gravíssimo, porque criará uma farsa aberta perante o povo brasileiro. Não será uma farsa oculta, que você põe no bolso e finge que não aconteceu. Este processo se aprofunda no Brasil. Por que eu falo isso? Vejam, está lá o Lula preso, por meio de um processo suspeitíssimo. No entanto, o presidente ilegítimo foi acusado duas vezes pelo ministério público e a mesma maioria que me derrubou é a maioria que o está protegendo. E agora tem outro processo em andamento contra ele. O meu adversário na eleição de 2014 foi gravado com malas cheias de dinheiro. Há provas tangíveis contra eles. A pergunta que eu faço é: eles estão presos? Mesmo com provas tangíveis? Não estão. Quem está preso? Está preso o Lula.

Eu acredito que nós ganhamos várias coisas neste processo. Por exemplo: a conscientização de que houve um golpe no Brasil deve ser atribuída à mobilização das mulheres. As mulheres foram para as ruas. Obviamente que muitas se identificaram comigo por ser a primeira mulher presidenta.

Houve outros ganhos. Os movimentos sociais e suas representações se uniram em frentes de luta. Hoje, tem representantes de mulheres, de jovens, de trabalhadores, dos sem-terra, dos sem-teto – todas as gamas reunidas numa frente. As pessoas se organizaram.

É visível que não houve uma movimentação envolvendo milhões de pessoas. Não. Mas há milhares de manifestações sistemáticas, envolvendo milhares de pessoas, que se transformarão em milhões.

Eu acredito que sem o encontro democrático das eleições, não haverá estabilidade no Brasil. O Brasil tem uma tradição de fazer pactos por cima. Quando me perguntam porque, num país democrático, o capitão Bolsonaro sentiu-se no direito de fazer um elogio da tortura, eu explico. Na transição da ditadura para a democracia, não se aprofundou a questão da tortura. Houve um acordo por cima e neste acordo por cima prevaleceu o que se chamava de anistia recíproca. Ora, não existe equivalência entre o terrorismo de estado e os opositores, sem força, presos, torturadas. O que aconteceu no Brasil foi terrorismo de estado. Se você faz  uma transição por cima, estes fantasmas saem da caixa como monstros. Quando tentamos mexer nisto, perdemos na Suprema Corte. Portanto, torturadores não foram condenados no Brasil. E mais dia, menos dia, o capitão Bolsonaro pode ir ao Congresso Nacional e fazer uma louvação à tortura, ao torturador e à ditadura.

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