Contra outra ditadura, a dos parasitas, Dilma aposta em outra política
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Contra outra ditadura, a dos parasitas, Dilma aposta em outra política

12/07/2016 12:28

Naquele 6 de julho em que o advogado José Eduardo Cardozo leria o documento para a comissão do impeachment no Senado não houve pedaladas. “Hoje não deu”, diz a presidenta afastada Dilma Rousseff, que anda de bicicleta por cerca de uma hora “quase” todas as manhãs. “Ficamos até mais de duas da manhã escrevendo aquele trem”, disse, suportando o cansaço com energia e um tanto de humor.

O dia em que a reportagem foi recebida, no Palácio da Alvorada, foi de muita movimentação no ambiente político. Na hora do almoço, longa conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ouvir “sempre informações importantes”. Em meio a uma sucessão de reuniões, Dilma se deu uma pausa para a entrevista, que durou pouco mais de uma hora.

Desligados os gravadores, conversou informalmente por mais meia hora – “Preciso ir para mais uma reunião, mas não estou com vontade…” –, desmentindo com descontração, piadas e comentários impublicáveis sobre sua fama de “má”. Naquele momento, não muito longe dali, Temer sofria um revés no Congresso, quando a Câmara rejeitou o regime de urgência para seu pacote de bondades negociado com governadores, orçado em R$ 50 bilhões. A derrota comprovou a tese da presidenta de que a governabilidade não está fácil para ninguém, nem para o “interino, provisório e ilegítimo”.

No dia seguinte, ela se encontra com dirigentes de PT, PCdoB e PDT para mapear os próximos passos da reação, enquanto o deputado suspenso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) renuncia à presidência da Câmara com vistas a preservar seu mandato e seu poder na Casa. “Cada vez que se dá mais um passo no sentido de afastá-lo melhora o ambiente, cria uma perspectiva favorável ao país”, acredita.

Roberto Stuckert Filho/ PR

Na ainda controversa proposta de consulta popular sobre antecipação de eleições, Dilma não explicita sua posição pessoal, mas deixa nas entrelinhas que a convocação de um plebiscito, sobre eleições presidenciais ou eleições gerais, não precisa ser condição prévia para que os senadores barrem o impeachment.

Para ela, o principal consenso alcançado já será o suficiente: “Restabelecer a democracia, fazer o Brasil voltar a crescer e conter as ameaças a direitos, tanto as efetivas como as virtuais, aquelas que ainda vão ocorrer”. E não haverá solução para a crise política sem a participação da sociedade e sem a abertura de um debate sobre reforma política.

Sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que teria sido cogitado para sua equipe, ela não desconversa. Observa que é pessoa qualificada, mas que depende de para qual projeto trabalha. No governo Lula, de 2003 a 2010, foi bem e ajudou. No governo do “interino, provisório e ilegítimo”, vai mal. “E em meu governo ele nunca esteve.”

A presidenta considera grave a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que restringe gastos com saúde e educação “não por um ano, mas por 20 anos” – praticamente o tempo que durou a ditadura imposta pelo golpe anterior, o de 1964. “O que se gastou ainda não é suficiente para o Brasil ser um país que tenha um padrão internacional equivalente a países do nosso nível médio de renda”, afirma.

Leia a íntegra.

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