Três manifestações diferentes, de brasileiros que se dedicam a assuntos internacionais, evidenciam a enorme preocupação que devemos ter com as ideias e as promessas — ou, mais propriamente, as ameaças — de Bolsonaro para a política externa brasileira. Começam mal e tudo indica que também não acabarão bem. A expectativa é de riscos políticos significativos e enormes prejuízos comerciais para o Brasil.
Irônico, Aloizio Mercadante, em entrevista à revista Época, mostra que Bolsonaro e Donald Trump têm muita coisa em comum:
“Eles não apenas representam a extrema direita e se utilizaram de fake news para se eleger, como colocam os interesses dos EUA em primeiro lugar.”
Que Trump tenha o seu próprio país como absoluta prioridade é compreensível. Os americanos não perderão dinheiro com isto, pela enorme dificuldade de muitos países para substituir os EUA por outros parceiros comerciais. O Brasil, porém, não pode dar um tratamento exclusivista aos EUA, pela óbvia razão de que, ao fazê-lo, estará sujeito a retaliações comerciais, pois existem substitutos quase perfeitos para nossas exportações, como é o caso da Turquia, da Argentina e outros.
O cancelamento pelo Egito de uma visita diplomático-comercial brasileira, nesta semana, demonstra que as consequências de opções erradas cobram seu preço de forma rápida e inequívoca.
Marcelo Zero, em artigo ao Blog Viomundo, adverte que as relações comerciais do Brasil com o mundo árabe sofrerão danos enormes com a realização da promessa de Bolsonaro de transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, imitando Trump e contrariando uma tradição de décadas da política externa brasileira.
Além disso, Marcelo Zero mostra que o golpe de 2016 e, a partir de agora, com um presidente que bate continência para a bandeira dos EUA, voltamos a nos subordinar aos interesses americanos na região e no mundo. É preocupante o que podemos esperar de uma submissão dessa magnitude aos EUA. Afinal, a China é nosso maior parceiro comercial. No ano passado, exportamos para a China US$ 47 bilhões, com um superávit a nosso favor de US$ 20 bilhões. Em contraste, exportamos apenas US$ 26, 8 bilhões para os EUA, com um superávit a favor do Brasil de somente US$ 2 bilhões, apenas 10% do obtido com a China.
Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores durante os governos do PT, afirmou em entrevista à repórter Christiane Amanpour, da CNN, e à Folha de S. Paulo, que os riscos do Brasil são internos, sem dúvida, mas também externos. Criticou a declaração do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, segundo quem o Mercosul não será prioridade na próxima gestão.
O ex-chanceler Amorim denuncia que o Brasil pretende fazer uma espécie de versão brasileira do Brexit, que vai esfacelar o Mercosul e ameaçar a paz na região. O que é absurdo, pois o Mercosul representa 25% das exportações dos manufaturados brasileiros e é a nossa região no mundo. As declarações de Amorim foram tachadas de antipatrióticas pelo futuro Ministro da Defesa. Acusação falsa, apenas um subterfúgio para esconder o reconhecimento das nefastas consequências das posições do futuro presidente e ministro da economia sobre as relações comerciais do Brasil com seus vizinhos e sobre a estabilidade geopolítica da América Latina
LEIA AS MANIFESTAÇÕES DE MERCADANTE, MARCELO ZERO E CELSO AMORIM NOS LINKS ABAIXO:
Mercadante à Época:
https://epoca.globo.com/pt-precisa-mudar-suas-praticas-afirma-aloizio-mercadante-23210913
Marcelo Zero ao Viomundo:
Celso Amorim à CNN:
Celso Amorim à Folha: